O natal é uma data onde aproveitamos para estarmos com as nossas famílias, pedimos perdão e desculpas para os erros cometidos e agradecemos tudo de bom que aconteceu-nos durante todo o ano, e para tudo de menos bom pedimos para que no ano seguinte seja melhor ainda.

A todos um bom natal

Passei aqui para desejar a todos um bom natal, que vosso natal seja feliz, solidário e cheia de luz.

Também queria dizer-vos para não se esquecerem do verdadeiro significado do natal. Apesar de pegarmos nesta data e fazermos grande ações, sermos solidários uns com outros e estarmos com as nossas famílias. Queria dizer-vos que o natal pode ser vivido e sentido vivido todos os dias.

Todos os dias podemos fazer grandes ações, sermos solidários e principalmente muito felizes.

Mas não passei por cá para dar-vos lições de moral mas sim para partilhar-vos uma passagem bíblica que aprecio muito e que acho que encaixa perfeitamente nesta época.

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

¶ O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.

Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;

Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
¶ O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;

Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

1 Coríntios 13:1-13

E os meus votos são: muita saúde, amor e paz, este são os meus votos de natal para todos.

Visto que este blog ser um blog gastronómico não podia despedir-me sem vos mimar um pouco!!!.

Ceia desta noite

Izaquente feito pela minha mãe

Hoje vamos falar do Calulu.

O Calulu é um prato típico de São Tomé e Príncipe. Não será originário destas ilhas mas foi adaptado pelas nossas gentes com os ingredientes locais e, hoje, como há muito tempo atrás, o calulu é um dos pontos fortes e prato incontornável da sua gastronomia.

Que tem este prato que o torna tão especial? Tem sabor, é certo, mas tem muito mais do isso, tem toda a história das famílias são-tomenses, tem o cuidado ímpar de preparação, tem a cultura das gentes e o diálogo com os forasteiros.

É uma das comidas mais demoradas e das que leva mais ingredientes de S. Tomé e Príncipe. Cerca de 4 a 5 horas é o tempo mínimo que demora a sua preparação.

O calulu é consumido como refeição habitual das famílias São-Tomense, nas festas religiosas e tradicionais, é presente dado aos defuntos no dia do bocado e oferecido a quem chega para visitar. Reza a lenda que quando uma família faz calulu, há um visitante a chegar.

Folha de matabala
Composto por mais de uma vintena de folhas diferentes, existentes na luxuriosa vegetação das ilhas, conhecidas também pelas suas fortes propriedades medicinais contra a malária, anemia, cólicas, entre outras maleitas, deixamos aqui o exemplo de alguns destes «verdes» que compõem o calulu. Além da couve e do agrião, conhecidos em toda a parte do mundo, temos plantas e verduras locais como sejam otaje, olho de margoso, folha de ponto, folha de tartaruga, folha de libô, d´água, folha de mússua, ton fonso, folha da mina, macumbi, figo tôdô, figo porco, folha tótóú, bujíbují, olho de guêgue, folha de maquequê, entre outras. Também as designações que aqui usamos são os nomes que estas plantas recebem nas ilhas.

Uma outra peculiaridade do calulu de São Tomé é que este é um calulu que foi sobretudo de peixe fumado ou fresco, embora também se faça calulu de galinha.

Maquêquê
É claro que um prato tão demorado quanto este e com uma tão grande variedade de ingredientes – de que referimos apenas algumas verduras e o peixe ou carne – não pode ser simples de confecionar. Daí que, aquilo a que se vem assistindo nos últimos anos é à paulatina simplificação de um prato tão rico e único, verdadeira pérola da gastronomia das ilhas.

Acresce referir que os utensílios tradicionais, como o pilão, entre outros, fazem parte da confeção original. E ainda fazem, para os mais resistentes e amantes da tradição e deste sabor tão especial.

Bom, mas quantos ingredientes, afinal, leva o calulu? Tente adivinhar. É o desafio que vos deixo. A margem de erro pode ser de 10, certo?

Queria ainda deixar um convite aos já conhecedores deste prato: tente descrever, em não mais de 20 palavra, o sabor do calulu. Daremos destaques às melhores respostas.


Calulu da minha mãe
Gastronomia São-tomense

S. Tomé e Príncipe dispõe de uma gastronomia rica e variada, à base de peixe e de legumes, fator que muito fascina os turistas que são praticamente "obrigados" a degustar os pratos típicos deste país.

O peixe é um dos produtos mais abundantes neste paraíso perdido no Golfo da Guiné. Aí, a venda do peixe é muito mais frequente do que a venda da carne, além de ser mais barato. Ao contrário do que se passa noutras partes do mundo, em que os ricos comem peixe e os pobres comem carne por ser mais acessível, em S. Tomé e Príncipe o peixe é mais barato que a carne.

O peixe fresco que se pode encontrar junto à costa é vendido, no mercado, a baixo preço e pode ser confecionado de muitas maneiras, (grelhado, frito e cozido) e com os diferentes acompanhamentos (banana cozida ou frita, matabala, fruta-pão, mandioca e, só eventualmente, é acompanhado com arroz ou batata) Apesar que recentemente, já se vem notado bastante o uso do arroz.

Realidade esta em que já se vem notando alguma diferença.


É de salientar que a gastronomia faz parte da cultura de um país e de certo modo, identifica-a.

Por isso, é necessária a preservação e valorização da nossa cultura para assim podermos mostrar às gerações vindouras os nossos hábitos, costumes e origem. Com o uso de novas tecnologias, fruto da globalização, as identidades dos povos alteram-se, geram-se novos hábitos e a cultura tradicional vai ficando para trás, muitas vezes esquecida.

Se não tivermos cuidado, quando dermos por nós, já não sabemos como confecionar o nosso próprio prato. Este é um aspeto que, tal como a nossa língua, entre outros, ao longo dos anos, tem mudado e muito.

Por isso é de evidenciar que a gastronomia faz parte do nosso património histórico-cultural face ao seu valor e ao impacto que tem, tanto na nossa sociedade como nas outras. Por exemplo, quando falamos de bacalhau com natas lembramos-nos logo de Portugal, e quando falamos de caril viramos-nos logo para a Índia ou para Moçambique.

Outro fator importante na gastronomia é que ela evolui consoante a evolução da sociedade, à medida que a população evolui, também os pratos vão sofrendo transformações.

A época colonial, nos séculos. XIII a XIX, permitiu a entrada de vários povos que vieram com a sua cultura e os seus hábitos alimentares, o que alterou substancialmente a forma de cozinhar. Mas estas novidades foram incorporadas na cultura e adaptadas segundo os ingredientes locais disponíveis.

Exemplo disso é o calulu, que também é confecionado em Angola, e é significativamente diferente do confecionado em S. Tomé e Príncipe, devido aos produtos utilizados, bem como os acompanhamentos. Por isso dizemos calulu de S. Tomé e Príncipe e calulu de Angola, designação de pratos que, tendo origem comum, se desenvolveram distintamente.

O mesmo se pode dizer da cachupa, que é um prato tradicional de Cabo Verde ou o caril, prato tradicional de Moçambique, que foram ambos adaptados à realidade de S. Tomé e Príncipe sendo que o modo de confecionar é distinto. O mesmo se pode dizer de muitos outros pratos que estas ilhas adaptaram em função dos recursos disponíveis e que, hoje, fazem parte integrante da nossa cultura porque o modo de preparação não é igual ao dos países de origem.

Como já referimos, o fato de se localizar no Oceano Atlântico faz com que S. Tomé seja abundante em peixe o que influencia bastante a culinária. Pratos oriundos de outros países feitos à base de carne foram, adaptados em S. Tomé e Príncipe para pratos à base de peixe.

Antigamente demorava-se muito a confecionar um prato típico, devido ao uso de muitos ingredientes que exigiam muito tempo de cozedura, o que contribuía para apurar o sabor
dos alimentos bem como as suas características medicinais. Agora, a forma de cozinhar tornou-se muito mais prática e adequada à vida quotidiana devido à falta de tempo e,
por outro lado, aos fracos recursos económicos por parte da população.
Calulu de Angola

Calulu de São Tomé e Príncipe